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quarta-feira, 21 de março de 2012

O mundo fantástico de Bobby na educação




Herasmo Braga

Ao observarmos o nosso cotidiano um tema que tem sido recorrente nas discussões trata sobre a inserção do Brasil no rol de países desenvolvidos dentro de alguns anos. Se tomarmos apenas o conceito de desenvolvimento stricto sensu da economia a afirmação procede. Todavia, se ampliarmos um pouco mais o nosso olhar sobre outras questões tão estruturantes quanto o fator economia, veremos que esse pertencimento ao clube dos países avançados não passa de uma utopia.
Não há como alcançarmos o sucesso desenvolvimentista deixando de lado os aspectos que envolvem a educação. Nesta pasta avançamos muito menos do que podíamos e menos ainda do que deveríamos. Carecemos da reformulação de inúmeras politicas públicas voltadas para o setor educacional. Além de melhor definição e execução da qualificação docente e discente. Assim, constatamos, então, que as estimativas econômicas nos elevam, enquanto as educacionais relevamos.
Uma ideia bastante equivocada, a nosso ver, consiste de que a partir do estabelecimento de um piso salarial de proporcionalidade ao valor educacional seria a grande solução do gargalho. Essa ideia além de equivocada é de extrema ingenuidade. O valor maior para os que trabalham na educação seria apenas um pequeno e necessário passo. Outros instrumentos deveriam também ser acrescentados como a questão do mérito do profissional diferenciado. Não se pode inferiorizar, discriminar, mas a partir do estabelecimento de questões isonômicas deveriam ser acrescidos nos critérios de avaliação do ensino não só de ordem quantitativas, mas, sobretudo, qualitativos para a percepção de ações docente significativas, fruto de profissionais que almejaram uma melhor preparação. Dispor todos a uma vala comum sem dar o devido valor de quem muito buscou é desestimular melhores investidas.
Sabemos de quem adentrou no universo educacional e se preparou para ser educador não teve como motivação os “grandes salários” que os trabalhadores da educação recebem. Também a sua escolha não resultou de investidas em outras áreas e que diante de alguns fracassos acabou ficando com as licenciaturas. Mas, possivelmente, uma consciência formativa e uma vontade de promover trocas de experiências através dos recursos dos conhecimentos adquiridos em diversas jornadas é que constituíram como algumas das razões que o encaminharam a docência.
Reconheço que para muitos as idéias acima expostas devem soar como os pensamentos do mundo fantástico de Bobby. Para quem não lembra esse desenho animado trata sobre Bobby Generic um menininho muito imaginativo e que sempre fazia perguntas difíceis para o pai chamado Howie responder. Howie, que aparece em carne e osso, usa de criatividade e muita fantasia para ajudar Bobby a entender as coisas da vida. Assim, Bobby usa sua imaginação para tentar compreender fatos da vida dos adultos como a morte e o nascimento dos bebês, por exemplo. Em cada pensamento um mundo de fantasia se realizava aos olhos de Bobby. E é neste mundo de fantasia que acreditamos na possibilidade das realizações necessárias educacionais. E nos move a discutir fatos importantes desprovidos de artificialidades como a questão de salários.
Em toda e qualquer profissão há aqueles sujeitos que dão mais resultados ora porque investiram mais em si, ora por outras razões como de maior habilidade e acabam, portanto, constituindo-se em profissionais diferenciados. Mas, mesmo assim, em alguns campos profissionais, muitos não são devidamente reconhecidos como na educação. Façamos uma comparação com o futebol. Será que jogadores que se dedicam mais e/ou por terem na sua natureza humana condições físicas, mentais favoráveis que acabam possibilitando um desenvolvimento maior de suas habilidades com os pés ou mãos deveriam receber a mesma base salarial só por que a sua profissão é a mesma? Será que o Neymar, Rogério Ceni, Messi e tantos outros deveriam receber o mesmo salário que caso o volante-zaqueiro Herasmo fosse jogador de futebol profissional – apesar do esforço não tem tanta habilidade assim. Seria justo com eles? Se eles fossem professores todos diriam que sim.
Um dos comportamentos típicos da educação é o exercício da falácia e execução da hipocrisia. E um das frases típicas é que quando se têm professores que desenvolvem com maestria suas atividades não fazem mais do que sua obrigação. Na iniciativa privada o professor que continuar sempre dando resultados positivos a escola ou faculdade terá com mérito a sua continuação no emprego. Como é animador esse quadro.
Contestando quem pensa assim é que nos colocamos com orgulho no mundo fantástico de Bobby esperando que os adultos que gerenciam a educação possam desenvolver inteligências empreendedoras e profissionais e fazer valer a força do mérito com reconhecimento dentro do campo simbólico e da ordem financeira.