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terça-feira, 7 de abril de 2009

Produção literária: crônica do Super Poder




A vida é mais do que uma encenação. A tragédia por mais genial que seja o seu construtor, não consegue ser tão mais completa quanto as que a realidade cria e recria, cotidianamente. Lembro-me de inúmeras sensações vivenciadas ainda nesta minha curta trajetória. Dentre elas quero agora destacar duas: a primeira de uma infância próxima, a outra do inicio da vida adulta.
Quando criança desejava imensamente saborear as diferenças de quem tem super poderes e os outros desprovidos deles. Queria muito voar com uma capa, subir em prédios sem uso de equipamentos, ter uma super espada, um robô gigantesco ao meu comando, i.e, ser um herói, imortal e protetor das pessoas. Mas quem na infância não vivenciou esta maravilhosa experiência, por mais difícil que tenha sido.
Há uma afirmação do contista e tradutor Modesto Carone que concordo plenamente: as pessoas não vivem sem ficção e esse elemento da vida faz parte de toda experiência humana. Até mesmo Paulo Honório em São Bernardo não conseguiu se abster dela porque senão qual seria o motivo de relato da sua história e a idealização da Madalena?
Recordo bem a nostalgia sentida quando li a crônica de Affonso Romano de S`antana “Antes que elas cresçam”. Apesar de minha filha ter apenas dois anos de idade na época e eu vinte três, começava a perceber que elas “não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente”.Já imaginava naquele momento a vida nos distanciando. Sensação amarga esta! O que poderia substituir aquela chegada de escola recheada de tagarelices, aventuras, intrigas, exigências... E a sensação que “Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância...” Após o susto de fuga do presente, retomei o aqui. Estava meio aliviado por perceber que ainda poderia curtir um pouco mais minha banbina.
Procurei-a, então, pela escola para aproveitar o máximo desses momentos antes que saía do banco de trás e passe para o volante de sua própria vida.
Retornando ao assunto. Da primeira passagem a última já se passaram vinte anos, da segunda, cinco. Ao longo desse lapso de tempo, muitas coisas aconteceram. Ganhos e aprendizagens. Amigos vieram e alguns se foram cedo, (não esqueço de vocês Lis e Raimundinha), mas um dos maiores momentos veio há um ano: com a chegada do outro filho. Fiquei tão maravilhado que quase entortei o garoto oferecendo o meu nome, concedendo-lhe então o título de segundo, mas a mãe dele o salvou. Hoje dia 12 ou 13 de um março qualquer, ele sem intenção alguma, uniu essas duas sensações, já meio esquecidas. A forma não foi das mais convidativas, mas acredito numa continuação feliz.
Continuo ,sim, desejando ter super poderes, mas não mais os mesmos, quero outro, mais forte e eficiente em que voar, escalar prédios com rapidez, desferir golpes irão se tornar insignificantes. O super poder almejado é o de transferência. Mas nada de me tornar invisível ou me transportar pelo tempo ou espaço. Quero apenas transferir para mim, e somente a mim, toda a carga de possíveis enfermidades ou sofrimentos que meus filhos possam vir a ter. Só quero esse megapoder para ser feliz e fazê-los também e, assim, presenciar eles crescerem e não conseguir mais colocá-los no colo, ou dar as velhas e tradicionais broncas,mas receber as suas visitas, mesmo que esporádicas.

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