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sábado, 15 de agosto de 2009

Conto


O tédio do casamento


Herasmo Braga


João era mais novo que Maria. Ela mulher já bem vivida, de outros relacionamentos, casamentos. João ainda despontava para as primeiras namoradas quando a conheceu. No inicio não a levava a sério. Acreditava em ela ser somente um vaso.

Casaram-se. Tiveram filhos. A convivência oscilava, brigas e pegas. Maria gostava de beber. João quase sempre era tomado pelos ciúmes.

- Eu não confio nem na minha sombra!

Um dia Maria chegou tarde em casa, esse fora motivo suficiente para João descarregar toda a sua ira, sem cobrar explicações. A discussão era alta.

- Você é uma vagabunda!

- E você um moleque.

- Quebre meus dentes novamente, covarde.

- Saia de perto de mim sua merda.

Assim à noite dos amores aconteceu. Não era a primeira vez que isso acontecia, mas seria a última. Após as trocas de acusações, recolheram-se. Nesta noite João dormiu no quarto da menor.

Dia seguinte: passaram um pelo o outro sem nada dizer. Não havia olhares, nem passos marcados com barulho pelo assoalho. Dificuldades com isso, no primeiro momento sim.

Outro dia a mesma seqüência. Sem falas, sem olhares.

-Isso é passageiro! Acreditavam.

Finalmente aconteceu: a repetição dos dois últimos dias.

- Se eu for atrás será pior. Por que sempre sou eu a ceder?

Assim foi a semana seguinte, o mês, o ano, a década. O que antes era estranho deixou de ser. Nenhum era capaz de abandonar a casa. Não de luxo. Casebre arrumado. Os filhos cresciam em meio a esse silencio. Acostumaram-se. Não havia mais brigas.

O maior adoeceu, motivo urgente para reatarem. Não aconteceu. Cuidavam dele sem olhar, sem falar. Gestos, mímicas, mediadores, nada disso. Pareciam automaticamente programados. Cada um desempenhava seu papel junto ao enfermo.

Restabelecido a saúde, recolheram-se.

Esse era o assunto tocado pela vizinhança quando não se tinha mais nada a falar.

- Como eles fazem para..., e... , também..., por isso eu...

O tempo passou e a velhice chegou. Tudo permaneceu.

4 comentários:

Unknown disse...

Olha ai o mestre em ação rapaz,desse jeito tu vai desestimular toda uma geração a se casar Herasmo,hehe,eu ja não caso mais
To dando uma lida aqui no blog + meu nivel de leitura ta abaixo dos teus textos como aquele primeiro
tenho q estudar um poco antes de ler

abraço cara

YWalter disse...

Simplesmente, parabéns!

=D

Excelente conto, Mestre!

Só podia ser meu professor mesmo...

Unknown disse...

Espero que aqueles que estão por casar não leiam seu blog, porque se não já viu né...Se um dia eu me casar espero lembrar do seu conto, pois você já sabe o desfecho!!!
Mas mesmo assim gostei!!!
PARABÉNS!!!
Ériça Bandeira
Bjo me liga

ElaiNe disse...

Tá muiiito legal professor....
Adoreii!!!